quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Munícipio Sociologicamente Deslocado à Esquerda

É a Luís Filipe Menezes que devo a mudança para um paradigma completamente novo - o do "Município Sociologicamente Deslocado à Esquerda".
Palavra de honra que vou procurar o e-mail do Anthony Giddens, mas duvido que até o Homem da 3.ª Via consiga esmiuçar este pensamento quase metafísico. É que há 14 anos que sou sociologicamente deslocada por deformação académica e profissional, e acho que ainda tenho que fazer um mestrado! Teremos então também um país sociologicamente deslocado à esquerda? Sabe, soa bem mas não rima.

Esta expressão só encontra paridade com a 'Reconversão da Pirâmide Etária' de Santana Lopes - acabou o Governo e ficámos sem saber o que queria dizer com isso e como pensava obrigar malandras como eu a procriar.

30%





A felicidade foi já reduzida a um sistema que as máquinas entendem, e no qual podem partcipar e intervir. Já nenhuma felicidade individual é independente da tecnologia (...). Se quiser números, podemos brincar aos números: a felicidade individual de um dia depende, vá lá, 70% da eficácia material das máquinas. Que a felicidade invisível esteja submetida a uma felicidade concreta,a uma felicidade de materiais em diálogo, de peças metálicas que encaixam umas nas outras e resolvem problemas fazendo determinadas tarefas, como tal pode parecer estranho; mas é o século.
Ser feliz já não depende de coisas que vulgarmente associamos à palavra Espírito. Depende de matérias concretas. A felicidade humana é um mecanismo.

Gonçalo M. Tavares, A Máquina de Joseph Walser

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Cheiro

"Pensar era uma coisa que existia num sítio oposto ao sítio onde se sentem os cheiros.(...)O cheiro é uma coisa exterior, é o limite do corpo: se é um pensamento(...)então o cheiro é o pensamento limite do corpo, uma coisa que está quase tão fora de nós como um chapéu: o nosso cheiro. Enquanto os pensamentos estão protegidos por uma série de camadas grossas. O cheiro não."

"(...)os pensamentos não têm movimento vertical, (...) os pensamentos têm apenas um movimento horizontal: avançam como uma máquina que avance, como os comboios, mas não saltam para cima. Não batem nos astros, se baterem é na árvore em frente.
Quando se age, esquece-se este movimento interno, esta agitação interna. Como se os pensamentos subitamente se dissolvessem numa matéria uniforme. Então como tudo é semelhante cá dentro, podemos agir lá fora; e se necessário com precisão, com minúncia, com grande variedade exterior. Se necessário agarras numa agulha, e então é fácil: tens que dissolver completamente os pensamentos em nada, depois agarrar na agulha com dois dedos e fazer um movimento de relojoeiro. Agir ao pormenor para não pensar nas grndes coisas."

Gonçalo M. Tavares, Um Homem: Klaus Klump, Caminho, 2003

terça-feira, fevereiro 22, 2005


Les Amants, Magritte

Como Seria Se Eu o Perdesse?

Precisamos de tentar chegar ao ponto de ver o que possuímos exactamente com os mesmos olhos com que veríamos tal posse se ela nos fosse arrancada. Quer se trate de uma propriedade, de saúde, de amigos, de amantes, de esposa e de filhos, em geral percebemos o seu valor apenas depois da perda. Se chegarmos a isso, em primeiro lugar a posse irá trazer-nos imediatamente mais felicidade; em segundo lugar, tentaremos de todas as maneiras evitar a perda, não expondo a nossa propriedade a nenhum perigo, não irritando os amigos, não pondo à prova a fidelidade das esposas, cuidando da saúde das crianças etc.
Ao olharmos para tudo o que não possuímos, costumamos pensar: 'Como seria se fosse meu?', e dessa maneira tornamo-nos conscientes da privação. Em vez disso, diante do que possuímos, deveríamos pensar frequentemente: 'Como seria se eu o perdesse?'

Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ser Feliz', no Citador

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Inconsoláveis

Descemos do 19.º andar para o Largo do Caldas, e que encontramos? Mais crianças desconsoladas. A diferença é que estas últimas têm correspondência etária com as suas atitudes. A orfandade parte-me o coração.

domingo, fevereiro 20, 2005

Vou Lá Acima Consolar as Crianças

A jornalista da SIC Anabela Neves, a fazer a cobertura no 'quartel general' do PSD, refere que um destacado dirigente Social Democrata teve a seguinte reacção às projecções das 20:00 - "Bem, vou lá acima consolar as crianças".
Estou preocupada pois as crianças estavam no 19.º andar.


Isabel, Dez/04 - Push

Ontologias#3

Las creencias constituyen el estrato básico, el más profundo de la arquitectura de nuestra vida. Vivimos de ellas y, por lo mismo, no solemos pensar en ellas. Por eso decimos que tenemos estas o las otras ideas; pero nuestras creencias, más que tenerlas, las somos.

José Ortega y Gasset, Historia Como Sistema, Espasa-Calpe, Madrid, 1971