quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Cheiro

"Pensar era uma coisa que existia num sítio oposto ao sítio onde se sentem os cheiros.(...)O cheiro é uma coisa exterior, é o limite do corpo: se é um pensamento(...)então o cheiro é o pensamento limite do corpo, uma coisa que está quase tão fora de nós como um chapéu: o nosso cheiro. Enquanto os pensamentos estão protegidos por uma série de camadas grossas. O cheiro não."

"(...)os pensamentos não têm movimento vertical, (...) os pensamentos têm apenas um movimento horizontal: avançam como uma máquina que avance, como os comboios, mas não saltam para cima. Não batem nos astros, se baterem é na árvore em frente.
Quando se age, esquece-se este movimento interno, esta agitação interna. Como se os pensamentos subitamente se dissolvessem numa matéria uniforme. Então como tudo é semelhante cá dentro, podemos agir lá fora; e se necessário com precisão, com minúncia, com grande variedade exterior. Se necessário agarras numa agulha, e então é fácil: tens que dissolver completamente os pensamentos em nada, depois agarrar na agulha com dois dedos e fazer um movimento de relojoeiro. Agir ao pormenor para não pensar nas grndes coisas."

Gonçalo M. Tavares, Um Homem: Klaus Klump, Caminho, 2003

2 Comments:

At 24/2/05 15:34, Blogger margarete said...

gostei muito desse livro,
"roubei-te" o 1º excerto

 
At 25/2/05 16:57, Blogger Bodião said...

É bom existirem pessoas como o Gonçalo, estávamos a precisar de sangue novo.:)

 

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