Big Brother
A religião baseia-se principalmente e antes de tudo, no medo. É, em parte, o terror do desconhecido e, em parte, como já o disse, o desejo de sentir que se tem uma espécie de irmão mais velho que se porá do nosso lado em todas as nossas dificuldades e disputas. O medo é a base de toda essa questão: o medo do mistério, o medo da derrota, o medo da morte. O medo é a fonte da crueldade e, por conseguinte, não é de estranhar que a crueldade e a religião tenham andado de mãos dadas. O medo é a base dessas duas coisas.
Bertrand Russell Porque não sou Cristão
19 Comments:
Haverá algum argumento que contrarie isto?
Só me ocorre acrescentar que o problema reside nos dogmas e não na religião. Fossem eles exclusivos das religiões do mundo e teríamos uma 'fearzone' bem delimitada. Infelizmente eles estão por todo o lado gerando mais e mais mediocridade.
Bertrand Russell não tem razão. As religiões não se fundamentam no medo, o poder sim. E o poder manifesta-se em todas as organizações, sejam elas de carácter religioso, político ou económico.
Não confundamos.
Concordo plenamente. É o poder do medo, da punição, do sentimento de culpa, 'visto' pelos olhos do dominador, claro.
O medo alimenta o poder discricionário, é verdade, mas a religião também exerce o seu poder através do medo. Não há nenhuma religião clássica que não encontre a sua sustentação nos medos humanos. Precisam dele para sobreviver.
Não encontro no Taoísmo, no Budismo, e no Cristianismo, qualquer sustenação no medo. Mas talvez não tenha procurado o suficiente...
O taoismo e o budismo são religiões que não têm uma base monoteísta, nem sequer transcendental, i.e., acreditam na capacidade de transformação do mundo pelo ser humano, não em um deus que tudo cria e vigia. Mas o cristianismo baseia o seu discurso no medo,- da morte, principalmente. Basta ler o Antigo Testamento, ou nem isso. Para o crente de passagem ou o ateu curioso, é suficiente espreitar o filme de Gibson, A Paixão de Cristo, que acaba por ser muito fiel aos acontecimentos descritos no Novo Testamento. Não haverá medo naquelas imagens, nas palavras dos evangelistas?
O período que atravessamos, a Quaresma, prepara-nos para um dos momentos fulcrais do Cristianismo: a Ressureição de Cristo (ou, se quiser, a superação da Morte).
O Cristianismo não baseia o seu discurso no medo da morte; pelo contrário, exalta a beleza transcendente do momento em que nos unimos ao nosso Criador.
Não vi, num único momento da Paixão de Cristo, o Medo. Vi Amor, Dúvida, Sofrimento. Medo, nunca.
I rest my case.
Tenho que concordar em pleno com o Sérgio. É no Homem que eu deposito toda a minha esperança na transformação do Mundo. É só uma questão de opinião, e de...fé. É nisto que acredito. Mas gostei de termos trocado ideias sobre este assunto.
Um abraço aos dois
Não tive tempo de participar na discussão atempadamente, mas concordo com o Petronius.
Falemos então na transformação do mundo. É no Homem que se encontra a semente dessa transformação. Mas o que é o Homem senão ele mesmo e a Religião, o Desejo, a Ciência, a Arte, o Amor, ... O Homem sem isso nada mais era que um animal e esses não conseguem mudar o mundo.
O Livre Arbítrio está condicionado pelos Valores, Sensibilidade e Conhecimento.
Petronius: a Religião, a Arte, o Desejo, a Ciência e o Amor são parte daquilo que nos diferencia dos animais. É o mundo para além do nosso corpo físico. O que nos torna únicos, se quisermos ser antropocentristas. Mas vem de nós, não do transcendente. Mas a existência de algo superior a nós é outra coisa. Há os que acreditam. E os que não. Nenhum pode provar definitavamente que está certo. É a grande contradição do Homem.
Apresento-vos Kurt Gödel:
In 1931, the Czech-born mathematician Kurt Gödel demonstrated that within any given branch of mathematics, there would always be some propositions that couldn't be proven either true or false using the rules and axioms ... of that mathematical branch itself. You might be able to prove every conceivable statement about numbers within a system by going outside the system in order to come up with new rules and axioms, but by doing so you'll only create a larger system with its own unprovable statements. The implication is that all logical system of any complexity are, by definition, incomplete; each of them contains, at any given time, more true statements than it can possibly prove according to its own defining set of rules.Portanto, não estamos perante uma Contradição do Homem, mas sim perante um Limite do Homem.
Não acham curiosa a afirmação de que poderemos ter todas as respostas para as preposições decorrentes de um dado corpo axiomático se, e só se, passarmos para um outro sistema axiomático mais vasto?
E aquilo que está para além dos limites do nosso conhecimento não nos transcende? Não é O Transcendente?
E no entanto, Gödel provou-o...
A ciência é a prova maior de duas coisas: da nossa inteligência e dos nossos limites. Ela apenas descreve o mundo, não o explica. O facto de precisarmos de criar um determinado conjunto de regras para para explicarmos outro conjunto, nada prova. A verdade é que, se há limites para o nosso conhecimento, até agora não tem havido limites para a nossa imaginação. é a própria imaginação que apoia as novas teorias científicas, como a das g-branas, impossível de provar até agora. Mas o que isto nos diz sobre Deus? Insisto, a um ateu, nada. A um crente, tudo. Demonstra que depois do Homem existe Deus, usando o instrumento que temos à mão, a ciência.
"Mas o que é o Homem senão ele mesmo e a Religião, o Desejo, a Ciência, a Arte, o Amor, ... O Homem sem isso nada mais era que um animal e esses não conseguem mudar o mundo."
Na minha opinião, tudo isto está no Homem, e não fora dele. É construído por si e para si. Só os instintos básicos são inatos...aí somos todos iguais.
http://filofax.blogspot.com/2005/02/batatas.html
Os hidratos de carbono são um problema igualmente preocupante.
Só para finalizar, como dizem os políticos, e iludindo a questão dos hidratos de carbono:
http://arquivosmortos.blogspot.com/2005/02/forma-de-deus.html
Lamento não conseguir fazer o link.
Hm. Sei que venho mesmo muito muito atrasada e tenho pena de ter perdido isto enquanto acontecia, mas quero deixar a minha posta de pescada:
A religião é PODER.
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