sábado, fevereiro 12, 2005

Os Macacos Deviam Vir Com Manual de Instruções

Hoje percebi por que raio resolveram chamar MACACO ao instrumento de tortura usualmente utilizado para proceder à substituição de um pneu furado e que vem (escondido) como apêndice recôndito nos automóveis...
Uma tarde de sol após quatro dias de gripe é a armadilha perfeita para me fazer sair de casa e ir tirar umas fotos, experimentar o tripé novo. Resolvemos ir ao Cabo da Roca, nós e mais 500 mil famílias, pelo que aturdidos fugimos para as Azenhas do Mar - conhecia a estrada, conhecia o buraco mas desta feita o buraco fez questão de dizer que também já me conhecia. Resultado - pneu sem ar e jante amolgada. Depois o clássico, tirar toda a tralha acumulada carinhosamente durante 15 meses para aceder à roda sobresselente e ao macaco. PROBLEMA: NÃO CONHECIA O MACACO E O MACACO NÃO ME CONHECIA A MIM. Recorri ao intermediário, o manual de instruções do machimbombo, e nada!!! Quem convencionou que os MACACOS não têm direito a meia página (A5) de instruções?! Um sádico com requintes de malvadez. Apenas dizia "Destrave o MACACO" - sim, mas OONNDDEEE? Desmontámos o macaco quase todo, até que restava só rodar uma peça...era mesmo essa! Os Macacos somos nós, nos nossos gestos e expressões a tentar perceber como aquela porcaria se destrava e se eleva. O nome correcto deveria ser ESPELHO.
Ainda há mulheres que se preocupam em escrever livros como "Os Homens Deviam Vir Com Manual de Instruções", para quê?! Só se alguns já as deixaram apeadas no meio do nada; a mim dá-me mais jeito um Manual de Instruções para o Macaco pois dependo mais do carro (eu sei, Dr. Pádua é mau para a saúde, eu sei, mas olhe que os homens também).
Não me queixo dos furos, apenas quatro, um em cada carro que tive. Queixo-me dos macacos. Porque não inventam um modelo universal? Talvez agora com o mapeamento dos genomas a coisa apareça. Como disse indignadamente o MEC a propósito de uma busca por repelente para pulgas: "Já inventaram até um repelente de tubarões, mas quem é que acorda com tubarões na cama?!".
É verdade, conseguimos tirar as fotos, mas o tripé não é grande coisa.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

2vintedefevereir0


Jos Lambregs, 1993

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

(...)

Depois de uma noite mal dormida, toda a gente não gosta de nós. O sono ido levou consigo qualquer coisa que nos tornava humanos.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego

O Mundo Devia Ser Um Túnel


JPP 2004
Klaus é um homem alto. Conheceu Johana porque ela olhou por cima de uma sebe verdíssima e olhou por cima de uma Primavera ainda mais verde que a sebe.
Eles costumavam brincar:
'Se tu fosses tão alto, não te teria visto por cima da sebe.'
E Klaus dizia a Johana:
'Se eu não fosse tão alto a sebe seria mais baixa.'
Klaus acreditava mais no destino que Johana. Porém nunca há duas mudanças no mundo para um único efeito. Se Klaus fosse mais baixo, isso constituiria uma mudança no mundo. Se a sebe fosse também mais baixa, seriam duas mudanças no mundo. Se existissem dois factos diferentes no passado então não poderia ter sucedido o mesmo. O destino tem uma lógica própria. São necessários cálculos complexos para perceber o que poderia ter acontecido em vez do que realmente aconteceu. Há demasiadas possibilidades para que aconteça sempre o mesmo. O mundo tem variedade e é longo. O mundo deveria ser um túnel, onde entravas de manhã e saías de noite. Sem ramificações. Uma canalização orientada, como existe nas casas. Abres a torneira e sabes que sai água. Ou então não sai água. Só existem duas possibilidades.

Gonçalo M. Tavares, Um Homem: Klaus Klump, Ed. Caminho, 2003.

DiaNove

Dia difícil antecedido de noite muito difícil. O que me ocorre para melhor o descrever é citar a Vieira do Mar:

"só tenho uma palavra:
umafilhadaputadeumafebredequarentagrausquenãomelarga"

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Policronías


Isabel (2005)

Es increíble pensar que hace doce años
cumplí cincuenta, nada menos.

¿Cómo podía ser tan viejo
hace doce años?

Ya pronto serán trece desde el día
en que cumplí cincuenta. No parece
posible.
El cielo es más y más azul,
y vos más y más linda.
¿No son acaso pruebas
de que algo anda estropeado en los relojes?
El tabaco y el whisky se pasean
por mi cuarto, les gusta
estar conmigo. Sin embargo
es increíble pensar que hace doce años
cumplí dos veces veinticinco.
Cuando tu mano viaja por mi pelo
sé que busca las canas, vagamente
asombrada. Hay diez o doce,
tendrás un premio si las encontrás.
Voy a empezar a leer todos los clásicos
que me perdí de viejo. Hay que apurarse,
esto no te lo dan de arriba, falta poco
para cumplir trece años desde
que cumplí los cincuenta.
A los catorce pienso
que voy a tener miedo,
catorce es una cifra
que no me gusta nada
para decirte la verdad.

Nairobi, 1976


Julio Cortazár, Salvo el crepúsculo, Buenos Aires, Ed. Alfaguara, 1996

Eugenesia

Pasa que los cronopios no quieren tener hijos, porque lo primero que hace un cronopio recién nacido es insultar groseramente a su padre, en quien oscuramente ve la acumulación de desdichas que un día serán las suyas.
Dadas estas razones, los cronopios acuden a los famas para que fecunden a sus mujeres, cosa que los famas están siempre dispuestos a hacer por tratarse de seres libidinosos. Creen además que en esta forma irán minando la superioridad moral de los cronopios, pero se equivocan torpemente pues los cronopios educan a sus hijos a su manera, y en pocas semanas les quitan toda semejanza con los famas.

Julio Cortazár, Cuentos Completos 2, B.A 2004

domingo, fevereiro 06, 2005

Outros Carnavais