domingo, fevereiro 17, 2008

Pérola #2 - Condoída com Cio




Pela ordem da explosão de ideias, esta deveria ser a Pérola #1. Mas podemos sempre aplicar-lhe o 'last but not least', e ficamos resolvidos.
Ainda em torno do vinho, da cerveja, do grão, da salada, e há pouco esqueci-me, do gelado de cookies de côcô, a C. teve outra extraordinária tirada, comparável a outra de há 12 anos(+/-). A Íris tinha atacado a S., e todos nós resolvemos falar do seu mau feitio e contar episódios em que fomos igualmente atacados à traição. O T., para achincalhar, vai rebuscar a teoria de que a gata é esquizofrénica por ter sido esvaziada cruelmente pela esterilização, e está em revolta. A C. em defesa de si própria, retrocede até à fase em que a Íris ainda estava com a mãe e diz 'eu recordo ainda ela era pequenina, de voar e aterrar com as quatro patas em cima da barriga da mãe, indiferente ao facto de ela estar condoída com cio'. Sim, CONDOÍDA COM CIO. Mas que bela expressão, e que me irá acompanhar pela vida fora sempre que vir alguém mais ou menos ressabiado. Era simples dizer ressabiada, mas ela estando em Lisboa, vai a Braga para ir para Almada.
Há uns 12 anos, ainda a Papa-Léguas não tinha descoberto uma certa aldeia abandonada ali para os lados de Mafra, nós fomos para lá acampar (só não tenho a certeza de a S. estar lá também). Sítio lindo, cheio de pirilampos, no cimo de um cerro de onde se avista o Palácio da Pena. Essa aldeia servia de abrigo a pastores e aos rebanhos, pelo que as casas onde podíamos dormir que não estivessem cheias de excrementos eram poucas, e 'dormíamos' por turnos (bons tempos). Os bancos eram pedras bem aguçadas, e por volta das 5.00 cheia de frio e sono digo eu para a C. 'Eh pá, dói-me o cú de estar aqui sentada na pedra', C. inconscientemente snob diz 'Eh pá, eu também de dói o cócix'.
Só tu C., mas são estas coisas que nos unem há quase 23 anos. E o melhor, é que temos refinado com o passar dos anos.

Pérola #1 - Enquanto sinto que ainda sou uma Deusa



Este fim de semana foi 'deveras profícuo' em chavões. Há anos que eu e a C. somos atrozes caçadoras de chavões e imagens, e acabamos por caçar em circuito fechado; forçamos as conversas e as palavras até fazê-las deitar sangue, em espirais que só nos entendemos. Mas por vezes, no meio dessas espirais surgem frases deliciosas que de profundas que são nos fazem explodir de riso.
Contexto: Almoço de sábado, tardio como se deseja, daqueles que embora combinados para as 14:30, ainda conseguimos chegar atrasados e sonolentos. Somos cinco, eu, o HP., a C., a S. e o T. Ao fim de 5 minutos as primeiras embirrações, bocas e indirectas com mais de 10 anos mas que fazemos questão de repetir em cada vez que nos reunimos.
O mais velho, HP, com as dores dos 40, o benjamim, T., fresquinho nos seus 30 anos. No meio a S. (34), eu (35) e a C.(36).
Este foi o nosso almoço de ano novo, e inevitavelmente que caímos aqui e acolá no existencialismo; nas oportunidades que não voltam, nas que não quisemos, nas desculpas por não termos tido coragem. A S. era a optimista de serviço, mística por defeito, e tentava animar a C. por não ter prosseguido uma carreira nas artes, e como todos nós, estar presa ao quotidiano, e foi aqui que surgiu uma das pérolas da tarde. A C. puxa de todo o seu interior e diz
mas eu quero ter uma vida nova enquanto sinto que ainda sou uma Deusa
- foi o êxtase. Ainda remetemos a frase para o contexto do sentir do peso do corpo que nos prende a alma, mas já não havia nada a fazer, caímos na perdição do riso, se pensarmos que estávamos no meio de garrafas de cerveja, vinho, restos de salada e grão. Só quem ficou atónita foi a Íris, a gata esquizofrénica. Obrigada, C. por mais uma pérola. Vai ficar na sala dos troféus, logo ali acima da lareira.

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